UM LONGO CICLO DE ESTABILIDADE PARA VOLTAR A GANHAR
Nos últimos seis anos, o quadro do futebol do
Benfica foi sombrio. Retrospetivamente, a vitória na Liga em 2022/23, parece
agora um pequeno interregno numa continuidade desastrada. Numa Liga de fraca
competitividade, em 204 jogos, somámos 26 derrotas e 30 empates. A época em
curso, parecia seguir o mesmo rumo, com empates caseiros com Santa Clara, Rio
Ave e Casa Pia e uma derrota europeia ridícula com o Qarabag do Azerbaijão.
Contudo, dois fatores abrem uma perspetiva de
inflexão do curso atual: a vitória clara de Rui Costa numas extraordinárias
eleições, com uma mobilização única da massa associativa. E, por efeito desta
nova legitimidade e da correspondente estabilidade, a oportunidade de
capitalizar o efeito Mourinho num ciclo longo. Mas para aproveitar esta
viragem, há algumas lições a assimilar, em matéria de foco do clube. Não se
pode vencer os rivais com as armas que lhes são típicas.
Apesar da natural indignação provocada por erros
de arbitragem, os nossos dirigentes não devem reagir, como é característico e
peculiar no FCP e no SCP. Durante anos a fio, escutámos os lamentos de um
Sporting então perdedor e assistimos ás pressões e reações desmedidas de
dirigentes e treinadores do FCP. Quem transformou a arbitragem numa arma, há
várias décadas, foram os nossos rivais, uns por via da sedução ou da
agressividade, outros por meio do lamento crónico. Mas as narrativas populistas
com estas, não oferecem soluções. São um efémero “passa-culpas” e não um
destino valorizável.
O foco público do Benfica, deve ser a
exigência de uma performance de alta competição, por parte de todos e cada um
dos jogadores e do coletivo. E, nesse plano, todos observámos, mesmo nos jogos
com arbitragens enviesadas, a existência de falhas próprias inadmissíveis.
Evidentemente, em paralelo, o Benfica deve
conduzir, com discrição, todas as iniciativas necessárias para se corrigirem as
anomalias no ecossistema do futebol. Deve lutar para reverter as influências
indevidas nas instituições. Tem de liderar todas as áreas criticas que
enquadram o futebol. Esse é o trabalho diplomático de dirigentes do clube, que
devem obter resultados rápidos e tangíveis.
O Benfica necessita agora de um longo ciclo de
estabilidade. Com um projeto que não seja apenas de curto prazo, com tempo para
trabalho de fundo e com os reforços selecionados, acredito que Mourinho
colocará a equipa a ganhar consistentemente de novo. Com ele, o Benfica será
uma meritocracia exigente. No Real Madrid, Mou não duvidou em secundarizar o ídolo
Casillas, em nome do interesse do coletivo. Jogarão os melhores, os que tenham
melhor rendimento, independentemente de quaisquer outros interesses.
Haverá, gradualmente, uma renovação por
competência, com a ascensão de alguns dos muitos talentos da formação (atenção
aos nossos sub 17 no Mundial do escalão). Existirá, paulatinamente, uma
reconexão com a gigantesca massa adepta, por via das vitórias e de uma nova
aura exibicional.
O Benfica necessita agora de um longo ciclo de
estabilidade, com Mourinho no comando da equipa. Se coletivamente o
conseguirmos, voltaremos a ganhar.
Nuno Paiva Brandão
Sócio nº 50.166