Depois da bonança, a tempestade!
No mítico Estádio do Restelo que tantas vezes visitei, ora a acompanhar o meu Pai, adepto ferrenho da sua Académica, ora mais tarde a acompanhar o meu Benfica, ou ainda, por vezes, a ver o Belenenses que meu Avô ajudou a fundar, o Benfica 25/26 jogou contra o Atlético (hoje na Liga 3) que nada se inibiu por jogar no Estádio do seu histórico rival. O Benfica ganhou naturalmente 2-0 e a estória deveria terminar aqui.
Mas não termina, porque se o jogo teve muito que contar, o pós-jogo ainda conseguiu ter mais (e creio que não vai terminar por estes dias).
Falemos então do jogo, ou melhor do Atlético que em campo jogou bem melhor do muitas equipes da 1a divisão. Desde cedo impôs o ritmo, conseguiu diversas ocasiões para rematar à baliza do Benfica com escassa ou nula oposição, e nós, adeptos do Benfica, nem tínhamos qualquer vontade de sorrir pelo atrevimento dos “pequenotes”, quase confundidos sobre qual das equipas seria o Benfica. Veio a 2a parte, entraram 4 e saíram outros 4 e o Benfica lá engrenou para uma exibição satisfatória, ao colo de Rios que até marcou o primeiro golo. Depois, era questão de tempo, porque o jogo ficou resolvido.
Desliguei a televisão ou mudei de canal, porque nem queria saber mais do pós-jogo e, esta manhã, qual a minha estupefação ao ter conhecimento das declarações de Mourinho após tão fraca exibição. Não por ter dito o óbvio, como nada termos jogado na primeira parte, mas porque descarregou em cima de 9 jogadores que culpabilizou por falta de compromisso ou motivação, embora acrescentando ser uma autocrítica que fazia.
Claro que foi uma autocrítica que fazia (e já não foi a primeira) porque se há alguém responsável por essa falta de atitude, o primeiro é e será sempre o treinador. Nem precisa vir nos livros porque toda a gente sabe que assim é. O grave foi a forma desabrida como partilhou culpas, parecendo mais que se desonerava das mesmas, perante tão miserável primeira parte.
Façamos um pouco de história. Mourinho, nos últimos anos, não tem tido grandes sucessos desportivos. A conquista pelo United da Liga Europa (2017) e a vitória da Roma na final da Liga Conferência (2022), são exceções a uma regra que tem consistido em poucos sucessos e fracas exibições (Spurs, United, Roma e Fenerbahçe). Veio para o Benfica com uma auréola que o seu recente passado fazia duvidar, mas a verdade é que a maioria dos Sócios acreditou no Mourinho redentor, tanto que elegeram Rui Costa por cerca de 66%, garantindo a estabilidade no Clube.
Acredito que Mourinho esteja nervoso, quer com esta sucessão de resultados, longe de corresponderem às suas piores expectativas, quer com a quantidade de lesões a fustigarem o plantel em unidades por si consideradas importantes (essa de não jogar o Dody, joga outro, é óbvio que não é assim!). A esta altura, certamente acreditaria que a qualidade exibicional do nosso Benfica fosse já algo em se orgulharia de rever, mas perante a realidade factual de vermos (na 1a parte) um Atletico de 1a divisão e um Benfica de 2a divisão, a última coisa que esperaríamos é que viesse incendiar o balneário e escrever a carta de despedida a uns quantos.
Mas aqui estamos, nem um mês depois das eleições. Se Mourinho se destrambelhou, a verdade é que Rui Costa ainda estará em polvorosa, porque jamais esperaria que ao fim de tão pouco tempo, a desconfiança dos Sócios e adeptos sobre os sucessos desta temporada estivessem a níveis tão baixos, perante tão fracas exibições que fazem os Sócios associarem estes momentos às últimas temporadas de Mourinho. A descrença campeia, se bem que janeiro esteja a chegar.
Ora janeiro costuma ser para customizar plantéis, jamais para os revolucionar, para mais quando o dinheiro não abunda. Mas estas declarações de Mourinho anunciam a revolução que deixa a Tesouraria do Benfica a tremer e a Rui Costa a pensar como pode responder ao seu treinador, ao qual está umbilicalmente ligado. As críticas aos jogadores a despachar não ajudam a realizar os valores que a Tesouraria precisa e os anúncios de carências no plantel valorizam quaisquer potenciais candidatos. Em suma, um rico nó gordio em que estamos.
Vem aí o Ajax e a maior curiosidade advém de saber quais os escolhidos (ou os degolados). Depois, o Nacional na Madeira, em vésperas de recebermos o Sporting a 5 de dezembro, onde só um resultado todos exigimos: a vitória. Com este ambiente, fica mais difícil acreditar, mas há uma coisa que no futebol sempre curou todas as doenças: as vitórias! Vamos lá então ser crentes, com a tal fé inquebrantável benfiquista que nos ume e esperar que Mourinho e aqueles em que ele acredita se suplantem e nos dêem as vitórias que todos ansiamos.
Manuel Boto (Sócio 2.794)