A penúria envolta em ilusão
No passado dia 8, realizou-se a segunda volta das eleições do Benfica, entre Rui Costa(RC) e João Noronha Lopes(JNL).
As ideias e o que se podia esperar do atual Presidente, eram matéria conhecida e nem sempre entusiasmante. Em relação a JNL, havia que consultar o seu programa, enquanto nos interrogávamos sobre os seus grandes objetivos para o mandato.
JNL, nos próximos quatro anos:
- quantos campeonatos de futebol se propunha vencer?
- quantos outros troféus nacionais planeava ganhar?
- quantos títulos visava nas modalidades de pavilhão?
Pois, ninguém desvendou o mistério.
JNL, nos próximos quatro anos, que resultados aspirava alcançar no domínio económico-financeiro? Quando voltaria o Benfica a ter estavelmente Resultados Operacionais positivos? Em quanto reduziria o Passivo anualmente? Que previsão formulava para o reforço dos Capitais Próprios?
Pois, ninguém desvendou o mistério.
Tendo sido omisso nos grandes objetivos para o seu mandato, de que forma concreta pensava JNL lidar com problemas iminentes. Como admitia atuar em relação ao problema urgente dos direitos desportivos?
Em substancia, o programa de JNL sugeria solicitar uma audiência ao Governo, para defender uma revisão da legislação e prometia, também, “a defesa intransigente dos interesses do Benfica". Mas como iria proceder a essa defesa? Como?
Pois, ninguém desvendou o mistério.
Então o que é que revelou com clareza JNL, no seu programa?
Concentremo-nos no coração do Benfica, o futebol profissional.
O programa de JNL explicou-nos que haveria um "Benfica ganhador", através de uma "estrutura de elite para o futebol profissional". O organograma exibido, confirmou a visão burocrática que o programa, na sua generalidade, deixava suspeitar. Um Vice-presidente Futebol, chefiaria um Diretor-Geral para o futebol, que por sua vez, tutelaria um Diretor Desportivo, um Diretor técnico, um Diretor do Benfica Campus (que lideraria um Diretor de Formação) e um Diretor para o futebol feminino. Um conglomerado de funções sobrepostas, um amontoado de nomes.
Por contraste, no Real Madrid, o Diretor-Geral do clube (não especificamente do futebol) comanda o Diretor do futebol, a quem respondem apenas dois cargos: um do futebol masculino, outro do futebol feminino.
Em minha opinião, no Benfica de 2025, os desafios do futuro requerem estruturas ligeiras, adaptáveis, inovadoras e energizadas. Não parece que um modelo que parece tomado das burocracias industriais de meados do século passado, seja adequado.
Não é apenas o custo da solução organizativa que seria excessivo, é a própria natureza da solução que é desadequada e está desatualizada.
O programa de JNL tinha algumas ideias interessantes e abordava temas importantes.
Mas era um programa “nem-nem” : nem estabelecia concretamente os objetivos a alcançar, nem definia como iria solucionar problemas-chave.
Esta penúria programática, aliada a uma agressividade mediática errática, conduziu JNL ao estatuto de “Poulidor”, o eterno segundo classificado.
O incumbente RC, fragilizado por resultados desportivos muito abaixo das exigências no Benfica, beneficiou das limitações programáticas e de comunicação de JNL.
Foi salvo pelo efeito descrito num conhecido ditado espanhol que sentencia:
“Más vale malo conocido, que bueno por conocer”.
Mas para o Benfica voltar aos seus tempos de grandeza, não basta ter sido derrotada a penúria envolta em ilusão. É necessário que não tenhamos uma nova ilusão embrulhada em penúria.
Nuno Paiva Brandão
Sócio 50.166