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Nem tudo o que luz é ouro…

Nem tudo o que luz é ouro…

Esta semana foi publicado o Relatório e Contas (R&C) de 2024/25 da Benfica SAD que apresenta um lucro de 34,4 M€, o que, por si, foi motivo de festa pelas bandas da Luz, para mais reforçada pelo facto da cotação das ações ter chegado a 6,78 € na passada 6ª fª dia 12 setembro. Tive a curiosidade de as ler e, francamente, não fiquei tão animado assim. 

Eu sei que falar das Contas é um bocado enfadonho para muita gente, mas, mesmo assim, vou dar uns lamirés do que mais me preocupa da leitura das mesmas. Antes disso, devo referir que, à semelhança de anos anteriores, este R&C está bem elaborado e contém muita informação que possibilita as análises essenciais.

Comecemos pelo resultado do exercício – 34,4 M€ que reflete primordialmente os lucros da venda de atletas - 46,7 M€ (líquido de comissões de 16 M€), ou seja, caso não fossem efetuadas estas alienações, o resultado seria negativo em 12,3 M€. Eu sei que me virão dizer e, com muita razão, que a venda dos atletas faz parte do “core business”  e que sempre foi assim. Sendo verdade, não deixo de ficar (muito) preocupado com a elevada exposição que temos ao sucesso comercial destas transações, demonstrada esta teoria com a realidade de que, mesmo com um notável incremento dos rendimentos operacionais (230,6 M€, sem receitas de jogadores, cerca de 30,6% superior ao ano anterior), praticamente “zerámos” o resultado operacional (3,9 M€ sem vendas de atletas). Ou seja, não é possível tirar outra conclusão, senão que a estrutura está “gordinha e anafada”. Assim, qual a surpresa que, num exercício de “vacas gordas” o passivo continue em 474,9 M€, tendo apenas descido 1,8% face ao ano anterior e, já agora, a dívida líquida (196,9 M€) apenas tenha descido 2,4%?

Como há pouco abordei as “gorduras” na estrutura, entendo que devo falar um pouco mais em detalhe das rubricas que mais contribuem para esta afirmação, utilizando como fator de referência 2021, quando do início do mandato de Rui Costa (9 julho de 2021, imediatamente a seguir ao fecho de 30 de junho). Assim, os FSE’s que em 2021 eram 46,2 M€ já vão agora os 77,9 M€ (68,6% de aumento) e os Gastos com pessoal que, em 2021 eram de 97 M€ são agora de 127,7 M€ (31,6% de aumento).

Eu bem sei que os rendimentos operacionais (sem vendas de atletas) que eram 94 M€ em 2021, subiram em 2022 para 169,3 M€ e, este ano, excecionalmente, foram de 230,6 M€ (245% de aumento em 4 anos). Só que, como já disse, não fico nada tranquilo porque os custos tendem a manter-se estáveis enquanto as receitas têm componentes relevantes muito voláteis. Basta pensar que o Mundial de clubes não se repete todos os anos (22,5 M€), a luta no campeonato pelos primeiros lugares está a ser feita a 3 pelo que a ida à Champions está longe de ser garantida dado que os nossos rivais Sporting e FC Porto estão na liça como nós, já para não falar na malfadada ideia da centralização de direitos que vem por estes anos e a prudência recomendaria alguma contenção que considero insuficiente ou não me parece existir de todo.

Para corroborar esta minha afirmação, sobre estas rubricas e sem pretender ser exaustivo vou elencar números dos R&C respetivos: 

(i) o plantel já emagreceu para 56 jogadores (em 2021 era de 95 jogadores), mas ainda temos uma equipe B e os sub-23 em que me pergunto se a relação custo vs benefício se justifica manter ambas as equipas pelo que gostaria de conhecer o racional; 

(ii) nos FSE’s, em 2021, a gestão operacional do Estádio custava 12,1 M€, em 2022 já subiu para 20,5 M€ e em 2025 já vai nos 31,6 M€ (261% desde o início do mandato!); 

(iii) vamos à Vigilância e segurança, uma rubrica pequena nos FSE’s - em 2021, o custo era de 1,3 M€ e em 2025 de 4 M€ - cerca de 300% de aumento em 4 anos; não será um pouco demais? E a terminar 

(iv) a gestão operacional da BTV era em 2021 de 3,8 M€, em 2022 dá um salto para 6,2 M€ e em 2025 vai nos 8,7 M€ (228% de aumento em 4 anos) - que tal um pouco de parcimónia?

Fico por aqui para não entediar mais quem teve a pachorra de me ter até aqui, mas não termino sem referir que sabendo que os lucros dão ânimo aos gestores, a verdade é que, aos Sócios, apenas os resultados desportivos contam e, seguramente após o empate contra o Santa Clara, serão raros os que encontram compensação para esta frustração nos lucros da SAD – e eu não sou desses raros.

Manuel Boto - Sócio nº 2.794