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Entre as ressacas e a vergonha, uma alegria!

 Entre as ressacas e as vergonhas, uma alegria!

1. Começo este artigo, cerca de 24h antes do difícil jogo contra o Gil Vicente, escassas 48h depois da grande desilusão do jogo contra o Rio Ave (ainda com enorme ressaca), em que cedemos um empate bem amargo, também pelas circunstâncias. Mourinho definiu bem o sentimento de todos os benfiquistas – foi uma derrota! Pela segunda vez numa semana cedemos um empate nos descontos e, pelo meio, afundámos na 2ª parte do jogo contra o Qarabag.

Terceiro jogo na Luz sem vitória será algo que, felizmente, não é nada frequente, mas, quando acontece, doi e remói. As leituras são óbvias – estamos sem condição física para aguentar os 90’ e as alternativas no banco suscitam dúvidas aos treinadores (fosse Lage ou agora Mourinho). Pessoalmente, gosto das aquisições, mas confesso que tenho fundamentadas suspeitas de que as dispensas terão sido precipitadas. Relembro Florentino, sobretudo, mas também Tiago Gouveia ou até Bajrami (titular nos 7 jogos pelo Lucerna), todos que nos poderiam ter sido imensamente úteis nestes jogos, por possibilitarem descanso aos habituais titulares.

Estamos a jogar de 3 em 3 dias, os treinadores têm insistido praticamente sempre nos mesmos onzes, com particular insistência no miolo constituído por Enzo II e Rios. Não pode ser por acaso, seguramente por sentirem que as alternativas não serão credíveis. Mourinho ainda estreou Lukebakio que mostrou ser um jogador que demonstrou poder uma solução muito válida e que nos fazia falta pela óbvia falta de alas que são fundamentais para defesas com bloco baixo como são 80% das equipas do nosso campeonato nacional, particularmente quando vêm à Luz.

Vamos agora ver contra o Gil Vicente (repito, escrevo esta parte do artigo antes do jogo) porque ou Mourinho faz alterações a refrescar a equipa ou poderemos somar o 4º jogo seguido na Luz sem ganhar, até porque o Gil Vicente, orientado por César Peixoto, tem uma qualidade bem superior aos anteriores que nos roubaram pontos.

2. Já terminou o jogo contra o Gil Vicente e que posso dizer de inovador? Mourinho disse quase tudo, identificando o cansaço decorrente do excesso de jogos cada 3 dias, como razão principal do fracasso exibicional, apesar da vitória, e César Peixoto disse o resto e muito bem - porque realmente a sua equipa foi indiscutivelmente a melhor em campo.

Refiro que Mourinho disse o quase, porque de tão direto que apregoa ser, faltou dizer o principal (quiçá para não questionar o Presidente Rui Costa), ou seja, o plantel pode ter qualidade para fazer um bom 11, mas com esta intensidade de jogos nem meia época faz quanto mais uma inteira.

Por princípio, os meus serão sempre os meus, mesmo que não sejam os melhores. Fui assim como treinador (de andebol uns 10 anos), como não ser apenas enquanto adepto? Mas mete-se pelos olhos dentro de qualquer expert (nem precisa de o ser muito) para, quando se olha para o banco, se ver um excesso de juventude como alternativas aos titulares (tal como Mourinho escusadamente o referiu, também suspirando por agora ir ter 4 dias de intervalo para defrontar o Chelsea, sobretudo abençoando o dia extra). Daí a minha surpresa pela falta de visão da estrutura do futebol, com responsabilidade máxima do seu Presidente, que deixou a equipa descalça de suplentes que lhe garantam a rotação competitiva em períodos de maior intensidade de jogos.

No final, 3 pontos muito suados, sem falarmos nos merecimentos da vitória, como não falámos em 4 jogos anteriores - Amadora, Alverca, Santa Clara e Rio Ave. Em suma 9 pontos ganhos contra 4 perdidos. Veremos nas contas finais do campeonato.

3. Isto de me meter a comentar com regularidade a vida do meu Benfica tem múltiplos momentos de um enorme prazer, misturado com um sentimento de pertença a um grupo maravilhoso de benfiquismo, mas, por vezes, também me deparo com os espinhos desta missão, felizmente bem raros.

Refiro-me, em concreto, a mais uma Assembleia, com mais 2 propostas da Direção “chumbadas”. Até aqui, mesmo contando com o desagradável dos votos serem políticos e nada revelarem sobre a qualidade das propostas apresentadas (neste caso, Contas e Regulamento Eleitoral), não tenho muito para dizer, até porque isto é o quotidiano da nossa medíocre política nacional, como se constata regularmente pelas piruetas e cambalhotas que os nossos líderes dão demasiadas vezes, consoante as propostas são nossas ou dos outros.

O grave, os espinhos a que me refiro, tem a ver com a receção “calorosa” com que LFV foi mimoseado quando se levantou para falar. Antigo Presidente durante quase 2 décadas, com obra construída, sócio com quotas em dia, qualquer democracia ou forum benfiquista agradeceria poder ouvi-lo, por muitos dislates que pudesse dizer. Já escrevi múltiplas vezes e reitero não compreender porque entende querer concorrer a estas eleições, atribuindo eu esta vontade a um ego descomunal, super convencido que apenas ele poderá reerguer o Benfica. Seja como for, pese a liderança firme de Pereira da Costa (salvé!), os tumultos de hoje fizeram lembrar imenso os tantos de outrora, por muitos já esquecidos e por outros nunca vividos.

Compreendo mal o “chumbo” das Contas, porque as razões aduzidas nada tiveram a ver com a sua essência, mesmo contando com uma reserva histórica dos auditores. Desta vez, até há Contas Consolidadas, de longe as mais importantes para qualquer análise. Mas foram reprovadas porque “sim” (ou porque “não”), por cerca de 1100 associados presentes (63/37%), num universo de 255 mil com capacidade eleitoral, apenas porque escassos militam e a esmagadora maioria se “borrifa” em estar presente.

Quando chegamos ao Regulamento Eleitoral, um excelente documento que merecia aprovação clara, foi ao invés ainda mais claramente chumbado por 70% dos 665 votantes, eivados de um ódio visceral contra a Direção, sem minimamente pensar nas consequências – ou seja, creio que ficará o anterior Regulamento Eleitoral de 2021, em vigor que terá de ser adaptado.

Aquilo que pessoalmente me faz maior confusão, é ver candidatos à Presidência do Benfica não serem capazes de explicar a racionalidade e méritos intrínsecos das propostas aos que os apoiam, demonstrando tibiezas ou cedências que não os qualificam para qualquer Presidência, muito menos do Benfica. 

Já por demasiadas vezes defendi e continuo a defender que o Benfica precisa de urgentes mudanças e que a dupla LFV/RC tem de ceder lugar a novas gentes, arejadas e com ideias modernas, adequadas aos tempos atuais. Mas fico preocupado com alternativas que, em momentos como nesta Assembleia, se demonstram incapazes de construir.

PS. Não sei quanto ganha Mourinho, mas, pelo que tenho lido, será sempre um valor pornográfico (como já era o vencimento de Schmidt) para os padrões portugueses. Poder-se-á referir que estará dentro dos padrões internacionais dos treinadores que todos queremos e sabem que temos de ter no Benfica se queremos resultados, mas não deixa de o ser. Agora, há uma coisa que sei: era perfeitamente escusado que Mourinho viesse referir que ganhava mais estando quietinho em casa. Deveria ter pudor, já que não sabe ser humilde.

Manuel Boto (Sócio nº 2.794)