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A grande ilusão (por Nuno Paiva Brandão)

A GRANDE ILUSÃO 

Daqui a cinquenta anos, quem irão citar os especialistas desportivos, quando se referirem ao Benfica, ao Manchester United e ao Real Madrid?

Irão certamente mencionar os génios que transformaram os seus grandes clubes, levando-os ao topo: Eusébio, Alex Ferguson e Florentino Pérez. Estas três figuras lendárias, representam, também, três etapas diferentes no mundo do futebol.

Na grande maioria do século XX, o fator crítico de sucesso no futebol foi o jogador. O Benfica de Eusébio, o Santos de Pélé, o Ajax de Cruyff, eram equipas com a assinatura da sua mega estrela. Quem dispunha da genialidade de figuras como estas e outras, quem reunia os maiores talentos no campo, possuía os atributos necessários para vencer.

Nos últimos anos do século XX, juntamente com outras novas estrelas do terreno, emergiram treinadores ímpares e que transformaram profundamente o jogo: Alex Ferguson, o dominador do futebol britânico, Rinus Michels e Johan Cruyff, os criadores do futebol total, Arrigo Sacchi, o mago da tática que introduziu a pressão defensiva no campo todo e outros treinadores que foram percursores na área da análise cientifica dos dados e na preparação atlética dos jogadores.

O futebol continuou a ver brilhar talentos inigualáveis como Maradona, Zico, Platini ou Van Basten, mas o fator mais critico do sucesso das equipas, deslocou-se para a esfera do treinador. Anos depois, mesmo no auge da rivalidade dos maiores jogadores da história: CR7 versus Messi, os debates especializados sobre os sucessivos Madrid-Barça, versavam tanto sobre os duelos Mou-Guardiola, como sobre os dois geniais futebolistas.

O novo futebol, moldado por aqueles génios do banco, ganhara novas características, diferentes competências e ferramentas de sucesso adicionais.

Contudo, a viragem para o século XXI, veio paulatinamente a consagrar uma nova mutação. A equipa dominante nos últimos 25 anos, o Real Madrid, teve ao seu dispor jogadores extraordinários como Figo, Zidane e, acima de todos, CR7 e foi liderada por treinadores excelentes como Del Bosque, Mourinho e Ancelotti. Mas o grande obreiro da revolução madrilista, não foi um jogador, ou um treinador, mas sim o seu Presidente Florentino Pérez.

Com a sua experiência empresarial numa grande empresa, Florentino transformou um Real Madrid em dificuldades desportivas e financeiras, num colosso dominador do futebol na Europa. Além disso, criou uma máquina de faturação que ultrapassou os 1000M de euros de receitas operacionais e gerou uma atratividade mundial para o clube.

Crescentemente, nas principais ligas europeias, o sucesso desportivo resulta das competências das Direções dos clubes. 

Klopp saíu do Liverpool e o clube continua a singrar, tendo sido campeão em 2024/25. Ancelotti deixou o Real Madrid, sem que isso pareça afetar a performance da equipa. Amanhã, Guardiola abandonará o City, seguramente sem consequências significativas. Direções competentes tinham os planos de sucessão devidamente preparados e os treinadores de alta qualidade de hoje, já pouco reinventam o jogo. O seu saber acha-se amplamente difundido.

No presente, quem quiser ser vencedor no longo prazo, terá de jogar o jogo atual dos vencedores: ter os melhores dirigentes.

O plantel do Benfica melhorou (embora a valores altamente inflacionados) e a chegada de Mourinho representa, em vários planos, um enorme salto de qualidade. Mas esta pode ser a grande ilusão.

Se o Benfica pretende ser consistentemente vencedor em Portugal e competitivo na Europa e, simultaneamente, ser um clube financeiramente sustentável, necessita de dirigentes de elite. Não se pode pedir a Mourinho, o que hoje nenhum treinador pode representar.

A soma das expectativas e ilusões criadas com a chegada de Mourinho e de uma administração fraca e impreparada, como a atual, seria uma receita para o fracasso.

Mas o problema sendo simples, não é fácil. Como é habitual na sucessão de Direções impreparadas, é simples saber quem não se quer. Mas, ouvidos os candidatos, não é fácil determinar com segurança quem se quer. 

Nuno Paiva Brandão (Sócio nº 50.166)