Avançar para o conteúdo principal

Dias difíceis…

Dias difíceis…

1. Assim se perdem campeonatos! Escrevo sob a emoção de 2 pontos desbaratados ao cair do pano contra um abnegado Santa Clara, que jogou sempre com garra e sentido de baliza, enquanto teve 11 jogadores e, depois com 10, se defendeu com um bloco superbaixo a deixar visíveis a olho nu as lacunas criativas do Benfica. No final, saiu-lhe a taluda, o azar de Otamendi foi a sorte dos açorianos. Depois do Arouca em 24/25, o jogo contra o Santa Clara vai certamente entrar nas contas finais deste ano porque é assim que se perdem campeonatos.

Mas não foi pelo azar de Otamendi que perdemos 2 pontos – foi pelo que não conseguimos fazer contra 11 e contra 10 durante 92’ (empate aos 93’). Lage meteu a jogar jogadores cansados, com viagens transatlânticas, quiçá convencido que resolveria o jogo de início, mas a lentidão da maioria foi exasperante e metemo-nos a jeito. Se na Amadora e em Alverca saímos milagrosamente com os 3 pontos em cada jogo, neste, a sorte pensou melhor e, como não demonstrámos merecê-la, cobrou-nos hoje 2 pontos. Em suma, o duche gelado que todos sentimos na Luz, não era de todo imprevisível pela sucessão de exibições dececionantes nos últimos tempos.

Como não adianta “chorar sobre leite derramado”, convém que Rui Costa tire ilações. No final da época passada escrevi que a insistência neste treinador para a época era um erro que lhe ia custar caro. Hoje, já há quem diga que até as eleições lhe pode custar. Não faço futurologia, mas parece evidente aos olhos da maioria dos benfiquistas que Lage tem demasiadas limitações para treinar o Benfica. Nós, os Sócios apoiamos sempre a equipa, mas custa imenso ver exibições como as que temos feito recentemente contra equipas que reputamos de acessíveis no campeonato nacional, sobretudo para quem investiu como Rui Costa o fez neste defeso. 

Segue-se o Qarabag, todos temos esperança de que melhores dias virão, mas convém fazer por isso, a começar por Rui Costa.

2. A campanha eleitoral começou a aquecer e eu juro que tinha prometido a mim mesmo nada dizer durante uns tempos, mas as promessas de jogadores que alguns candidatos andam a anunciar aos 4 ventos fizeram-me quebrar a minha vontade. Já nem sei quem abriu as hostilidades, mas também não interessa muito. Em 2020, Noronha referiu, por estas ou outras palavras,  que isso de anunciar jogadores era conversa do passado e que “hoje” (ou seja, na altura) as campanhas eleitorais do Benfica já não se fazem com promessas desse género – pela boca morre o peixe. Agora anuncia a vontade (ou terá mesmo o compromisso) de trazer Bernardo Silva, ou em já em janeiro ou apenas em julho. Cristóvao também se lembrou de referir ter vontade de tudo fazer para trazer de volta João Neves e até meteu ao barulho Klopp e a convicção que possui de que este gostaria de treinar o Benfica. Aguardemos as próximas promessas…

Muito a sério: será mesmo verdade que os candidatos (ou alguns) ainda pensem que as eleições se irão decidir pelo dialeto “futebolês”, em detrimento de programas eleitorais onde as questões macro e verdadeiramente as que são importantes discutir – políticas de investimento no futebol, nas modalidades e nas infraestruturas, também as questões relacionadas com as “gorduras” que se encontram no Clube, ou a centralização de direitos, BTV, etc – passam para segundo plano? Se realmente assim acontece, se o “futebolês” ganha eleições, não auguro grande futuro ao meu Benfica.

3. Vai por aí um charivari enorme sobre o voto eletrónico ou físico nas Regiões Autónomas e no Estrangeiro. Sabendo todos que os Estatutos requerem que o voto eletrónico mereça a concordância de todas as listas concorrentes, vamos lá falar um pouco da realidade prática, ou seja, do que considero ser um disparate a insistência, para estes casos, no voto físico (já que os votos por correspondência não estão previstos nos Estatutos). 

Em primeiro lugar, se na Madeira há apenas 2 ilhas, os Açores têm 9 ilhas (todas relativamente pequenas) e a pergunta surge de imediato: a organização vai meter mesas em cada ilha? Comecem a relacionar o custo da operação vs o benefício face à alternativa eletrónica. Vamos lá agora complicar um pouco: há benfiquistas nos 4 cantos do mundo e, por absurdo, vamos meter uma mesa em cada país ou teremos de capilarizar a localização das mesas consoante a dispersão? Parece claro que o requisito dos votos físicos exige uma estrutura absurda e altamente complexa, até pelas enormes distâncias a percorrer – como no Estados Unidos ou na Austrália, por exemplo. Se, por exemplo, num Estado qualquer desses países existirem 5 Sócios (ou 10 ou 20 que seja) fará sentido meter uma mesa de voto? Os fundamentalistas assim o exigirão, digo eu, porque o Benfica é e sempre foi um Clube democrático e até terão razão porque todos com capacidade ativa têm direito a votar… 

Uma última nota sobre a impossibilidade do voto por correspondência que implica, necessariamente, que o voto físico esteja nas urnas na Sede do Cube no dia das eleições. Ou seja, para locais onde não haja mesas de voto e dado que os cadernos eleitorais apenas estarão fechados a 10 de outubro (obrigando a detalhes de verificação nos dias imediatos), será necessário que se monte uma complexa operação logística de envio do voto que assegure que qualquer Sócio, algures nos confins de um qualquer país, receba em escassos dias e de imediato devolva o voto expresso a tempo de estar a 25 de outubro em Lisboa. Simples e perfeitamente viável, como podem calcular.

Haja Deus e um pouco de bom-senso e daqui peço a todas as listas: aceitem lá o voto eletrónico para as Regiões Autónomas e Estrangeiro.

Manuel Boto (Sócio 2.794)