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O futebol numa “Nice”, mas o resto nem por isso...

 O futebol numa “Nice”, mas o resto nem por isso...

1. A eliminatória com o Nice já leva código postal - ou seja, com todo o mérito o Benfica “já tem meio caminho andado”! Lage surpreendeu ao apresentar uma equipa em 4.4.2, um sistema pouco rodado desde que tomou conta da equipa, apenas excepcionalmente utilizado (nem me recordo se alguma vez de início).

A verdade é que resultou em pleno, muito por mérito da qualidade superior da nossa equipa e dos novos reforços, principalmente de Ivanovic, absolutamente crucial para a eficácia do sistema e com um Pavlidis a fazer excelentes movimentos que libertaram o seu colega. Assim, parabéns a Lage por ter surpreendido e engendrado este sistema.

Mas, sem querer ser pessimista ou alarmista, relembro que falta o restante meio caminho que terá de ser preparado com enorme cuidado, até porque, agora, já ninguém conseguiremos surpreender. Isto de ter décadas de futebol tem a vantagem de ter memória de vitórias fora cujas vantagens foram perdidas na 2a mão na Luz. Verdade que foram raras as ocasiões, mas aconteceram e foram bem dolorosas. Portanto, “cautelas e caldos de galinha”, esperando que Lage tenha a ousadia de ter a iniciativa do jogo, desde o início, para reforçar a vantagem, antes que os franceses comecem a acreditar que podem virar a eliminatória.

2. Há muitos meses escrevi que o apoio a Proença dado por Rui Costa seria uma arma de arremesso das oposições aquando das eleições. LFV, recentemente, não poderia ser mais claro ao imputar o clamoroso erro de estratégia a Rui Costa. Ou seja, nada estou surpreendido com a situação e acredito que as acusações que virão pela frente até às eleições serão ainda mais impiedosas. 

No entanto, LFV faz essas acusações e esquece-se que Proença foi eleito para Presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional em julho de 2015, exatamente quando era Presidente do Benfica. Será que então o Benfica se opôs? Não creio, bem antes pelo contrário. Ou seja, quem impulsionou Proença, logo no início da sua carreira como dirigente para os altos voos de hoje até foi LFV. Rui Costa apenas continuou. Conclusão: LFV escolhe mal quem apoia, primeiro Proença, depois Rui Costa. São enganos a mais para quem anda a insinuar candidatar-se à presidência do Benfica!

A terminar este assunto, registo o comunicado de Nuno Lobo, escrito de forma ajuizada e que termina de forma suave mas contundente, ao referir, sobre as declarações de LFV em concreto e que lhe dizem respeito que “nada há que careça de correção ou desmentido da minha parte”. 

Dito isto, só faço uma pergunta: tamanha a gravidade das acusações formuladas, vai ficar tudo em “águas de bacalhau”? Se sim, só conseguirei tirar uma única conclusão - este futebol português é uma República das Bananas!

3. Dizem por aí que virá uma “bomba” (leia-se reforço de alta qualidade) para o Benfica. Mas agosto vai quase a meio, os plantéis estão praticamente fechados e não será fácil conseguirmos alguém com créditos firmados para entrar diretamente na equipa.

A partir daqui, sendo tão raros os jogadores que adquirimos no mercado interno, fico com uma dúvida: o “scouting” anda desatento ou não há qualidade em jogadores a despontar? Assim, de repente, poderia apontar meia dúzia de nomes de jogadores que me despertaram a atenção no ano passado no campeonato português, aliás onde os nossos adversários se têm reforçado e bem. Fica a sugestão, até porque comprar internamente teria a vantagem de financiar o mercado interno, porventura aliviando a pressão sobre quaisquer fórmulas engendradas de centralização de direitos em que, por mais cálculos que se façam nas bases atuais, apenas uma conclusão pode ser dada por adquirida: o Benfica tem tudo a perder!

4. O futebol português continua a pautar-se por momentos perfeitamente surreais quando não absolutamente ridículos. Um dos mais recentes, é a queixa que o Sporting apresentou por Bruno Lage ter insultado o árbitro Fábio Veríssimo na final da Supertaça, com um vernáculo bem português e demonstrativo da sua eloquência.

Vamos “dar de barato” o elevado moralismo dos dirigentes do Sporting, por coincidência envolvendo um árbitro de quem há muito se comenta uma alegada conotação a este Clube, o que até originou um comunicado do Benfica, aquando da sua nomeação para apitar a Supertaça. Vamos apenas cingirmo-nos ao que cremos ser o único objetivo concreto: afastar Bruno Lage de dirigir 1 ou mais jogos do Benfica, quiçá com sucesso garantido.

Só que, parece-me indiscutível que o tiro lhes sai pela culatra por 2 razões: (1) cola definitivamente o árbitro ao Sporting e futuras nomeações que sejam feitas para apitar os seus jogos serão objeto de suspeita por antecipação; e (2) o Benfica não ficará inferiorizado por não ter Lage no banco neste ou naquele jogo, até já havendo quem refira, com dose refinada de sarcasmo, que será altamente vantajoso…

5. A centralização de direitos é, por si só, um folhetim que justificaria um texto separado, mas um artigo do CM de 10 de agosto (pág. 29) obriga-me a tocar ao de leve no tema. Nele se faz alusão a uma realidade que há muito venho sustentando: a falta de interesse que o futebol português desperta para a transmissão televisiva dos jogos dos seus campeonatos profissionais.

A comprovar esta minha afirmação, um dado tão factual quanto doloroso: a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) apresentou uma proposta à Autoridade da Concorrência em que, pasme-se, não há qualquer referência a uma receita mínima para a venda dos jogos nem se define uma chave para a sua repartição. Querem maior prova de que a LPFP “anda às aranhas” com este assunto e até para se chegar aos 189 M€ de 2023/24 (sem reformular os quadros competitivos, uma necessidade que se mete pelos olhos dentro) muito os clubes terão de penar?

Manuel Boto (Sócio nº 2.794)