Entre o futebol que nos anima e o ultrapassado “futebolês”…
O jogo da Turquia é um daqueles em que, quando termina, ficamos com “mixed feelings”. Um bom resultado em teoria porque tudo ficou em aberto para a Luz, mas um amargo de boca porque poderíamos sair bem melhores, caso houvesse a ousadia que a superioridade merecia.
Lage deu o mote ao optar por uma equipa defensiva logo de início, instintivamente orientando os jogadores para um empate como objetivo. Os jogadores, esses, cumpriram à risca essas diretrizes e trouxemos a eliminatória para a Luz.
Veremos o que se vai passar, porque Mourinho jamais “atira a toalha ao chão”. Tivemos a oportunidade de ver na Eusébio Cup que o Fenerbahçe pode ser letal no contra-ataque, aproveitando bem os espaços concedidos pela defesa do Benfica. Foi assim que sofremos inopinadamente 2 golos e lá ganhámos o troféu quando poucos já esperariam, com um Henrique Araújo a prometer voltar a ser a promessa até aqui adiada.
Muito para além das eleições a 25 de outubro está o Benfica. Ganhe quem ganhar, estar na Champions é, financeiramente, absolutamente crucial. Vamos esperar que corra bem, acreditemos que seremos capazes.
2. Contra o Tondela foi mais um jogo em que o resultado foi melhor do que a exibição, até dando para rodar jogadores, poupando alguns mais cansados para a Champions. Um triunfo sem qualquer contestação da melhor equipa sobre o terreno que teve uma segunda metade da 1a parte francamente bem jogada, com interessantes movimentos atacantes que valeram 2 excelentes golos.
A 2a parte foi um bocado entediante, talvez com o “mindset” na Champions, até à entrada de Prestiani, um jovem que, pelo seu querer, me enche francamente as medidas. Agitou o jogo, trouxe alegria e vivacidade à equipa e conseguiu um golo que lhe valeu uma brincadeira de Otamendi, bem demonstrativa do carinho que por ele nutre.
O que fica do jogo são os 3 pontos e uma sensação de que a equipa ainda está longe do seu potencial, mesmo sem os reforços de que se fala para posições ainda cadenciadas. Como o nosso principal objetivo nacional é o campeonato e tendo em consideração a competitividade prometida pelas (boas) exibições dos nossos rivais (Braga incluído), convém que o plantel seja pontualmente reforçado, mas com jogadores que entrem de caras no 11, porque, para promessas, já temos muitas, algumas até sem muitas perspectivas de rodar.
3. As eleições do Benfica fazem a delícia das televisões, pelas audiências que proporcionam. Esta semana teve já 3 entrevistas, tão distintas quanto as personagens: LFV, Cristóvão Carvalho e João Diogo Manteigas. Um, com a auréola de ser antigo Presidente, com obra feita nos 18 anos que esteve na Luz, os outros a lutar por serem conhecidos, em primeiro lugar, depois almejando expor ideias que venham a persuadir os Sócios votantes.
Foram 3 momentos de televisão absolutamente díspares. Vieira guardou para a TVI/CNN o anúncio de ser candidato, esperando que, em troca, os entrevistadores fossem “amigos” e utilizassem predominantemente o “futebolês”. Para surpresa de todos, viu-se que não contava com perguntas tão incómodas quanto pertinentes, dado que se candidata a Presidente de uma SAD cotada.
Basicamente, a sua estratégia era zurzir em Rui Costa sempre que pudesse e erigir a sua candidatura em cima de um passado de Presidente de que se orgulha, considerando, quer a recuperação económica que protagonizou (com DSO, não esquecer!) quer os títulos conseguidos, reivindicando a 2a década de maior sucesso desportivo. Nesta parte, cumpriu à risca o programado, nos intervalos das perguntas absolutamente esperadas de jornalistas independentes que o fustigaram com os diversos processos judiciais em que o seu nome está envolvido, alertando até para o “fit and proper” da CMVM que poderá suscitar dúvidas sobre a sua elegibilidade para Presidente da SAD.
LFV, claramente afetado por este tipo de questões, denotou enorme agressividade até pessoal perante os entrevistadores. A sua candidatura deveria estar bem preparada para perceber que este tipo de questões são, hoje, em dia, mais do que pertinentes. As exigências das sociedades cotadas assim o obrigam e o “futebolês” é um dialeto claramente ultrapassado a este nível.
No resto, com Rui Costa, com Proença ou a falar de projetos futuros, garantindo estar financeiramente resguardado, foi ele mesmo: impiedoso como os seus “inimigos”, vago no resto, com exceção de prometer um “penta”, coisa fácil de atingir como qualquer um imagina. Numa afirmação marcou claramente pontos: o Benfica está a comportar-se como um “clube rico” ao comprar jogadores na faixa dos 25-30 M€, o que lhe retira margens de potenciais mais-valias. Muito curto para uma tão grande entrevista. Num país normal, em eleições que não envolvessem paixão, qualquer um diria “menos um concorrente”.
No Benfica, é tudo possível, tamanha a paixão que todos sentimos e brandimos pelo Clube. Racionalmente, diria que disputa o palco com Rui Costa que sente como seu único concorrente para depois, numa 2a volta, se virar para a oposição. Por isso, refere (segundo o Record), que só irá debater com Rui Costa, demonstrando que, para ele, será o seu único adversário, partindo este como incumbente. Veremos o que irá passar nestes 2 meses, mas tamanha tem sido a sua belicosidade que poderá ter claro efeito boomerang.
Cristóvão Carvalho esteve como se esperava de um desconhecido que tem o poder da palavra. Falou em linhas de crédito disponíveis de 400 M€ no quadriénio, a taxas de juro altamente favoráveis, sem mencionar quem o cauciona. Referiu, como atingível, a meta da conquista da Champions e prometeu abrir a BTV para os Sócios. Pelo meio, abordou o tema da centralização dos direitos de transmissão, onde o irrealismo negocial impera, sem se vislumbrar uma solução que minimamente satisfaça o Benfica. Uma pessoa ouve e pasma, pensando como o irrealismo de promessas pode ser arma eleitoral. Sobre este candidato e iso obviamente nada tem de pessoal, mesmo com a irracionalidade benfiquista, creio poder dizer “um a menos”.
João Diogo Manteigas demonstrou estar muito bem preparado para ser candidato, apresentando números concretos sobre a realidade do Benfica. Marcou claramente pontos a defender as suas “ideias-chave”, particularmente em áreas tão sensíveis como a centralização de direitos televisivos, demonstrando um racional sustentável de defesa dos nossos interesses, ou ainda referindo dados objetivos sobre a necessidade de redução de custos. Em particular, marcou pontos ao referir o défice crónico de exploração quando a época começa, o que explica as necessidades financeiras que a Champions representa e foi arrasador ao referir o Benfica ser “um entreposto” de jogadores.
Pediu debates entre os candidatos, algo que seria absolutamente salutar em prol do esclarecimento de Sócios, foi direto ao referir os erros de Rui Costa, quer na constituição da equipa que o apoia quer nos apoios dados a Proença e referiu ter este sido um falhanço desportivo. Relembrou a entrevista a meio da época de Varandas que, no seu entender, condicionou as arbitragens até ao final da época. Ou seja, foi muito direto na sua linguagem, marcou pontos entre os Sócios votantes, sobretudo pela solidez e clareza da sua argumentação. Se for até ao fim, seria muito importante conhecer a sua equipa para corroborar a ideia de que vai baralhar as contas de todos os candidatos.
Manuel Boto (Sócio 2.794)