Sonhos de Verão
A época estival
já se anunciava quente, em resultado de todas as alterações climáticas, quando
LFV veio ainda mais aquecer o ambiente estival, com uma entrevista a entreabrir
portas para uma eventual candidatura, mas desde já a iniciar um ajuste de
contas com Rui Costa. Absolutamente convencido de que se concorrer ganha as
eleições, tal a adesão que ainda acredita ter entre a massa associativa do
Benfica, deixa esse anúncio para segundas núpcias, mas complementando a
entrevista com um anúncio pomposo de investimentos luxuosos para a Luz, qual
sonho de um visionário.
Algures por
2001/02, nasceu o sonho da construção de um novo estádio da Luz, opção adotada
pelos benfiquistas em detrimento da remodelação do anterior, muito mais barata
na altura e que garantiria o número mítico de 80 mil lugares que garantiria uma
final europeia e responderia à procura futura de lugares cativos, que hoje têm
cerca de 21 mil em lista de espera (estou à vontade para falar nisto porque me
debati por esta solução publicamente na Assembleia Geral que aprovou a construção
do novo estádio, por ser economicamente mais sustentável num momento
particularmente crítico que vivíamos na altura).
Em anúncio
pomposo, hoje no CM, um jornalista complementa a entrevista anterior e refere
que LFV idealiza uma Luz com 120 mil lugares, inclusive alvitrando a construção
de um novo estádio, com uma infraestrutura em redor capaz de albergar
escritórios (ou comércio) e um hotel. No mínimo, um visionário, realisticamente
alguém que sobretudo sonha em construir, no fundo a atividade em que cimentou o
seu património atual. Ao invés, estou eu, por formação profissional economista
e gestor, que confesso que me arrepio com estes sonhos, sobretudo ao olhar para
o passivo atual do Benfica, 472,3 M€, nas contas semestrais de 2024/25.
Seja como for,
LFV conseguiu os seus objetivos e de tal forma que até me pôs a escrever sobre
ele e as suas ideias. Sobre o “core” da atividade do Benfica, apenas refere o
flop da gestão do seu sucessor Rui Costa nestes 4 anos, que se consubstancia na
posição dominante do Sporting, vencedor de 3 campeonatos nos últimos 5. Ou
seja, ataca onde sabe que doi e muito aos benfiquistas. Curto, muito curto,
para quem foi um presidente durante 20 anos, mas eficaz na mensagem transmitida.
Entretanto Rui
Costa sabe bem que a sua candidatura depende praticamente tudo dos sucessos desportivos
de agosto, particularmente o apuramento para a Champions, mas também a vitória
na Supertaça contra um Sporting sem Gyokeres, mas com um miolo altamente
possante e bem reforçado. Com acentuado atraso para a construção de uma equipa
na verdadeira aceção da palavra, vão chegando os reforços que todos
acreditávamos que iriam ser os trunfos de Rui Costa para as eleições: Dedic, Obrador,
Enzo II, Rios e talvez Félix (eu sempre achei que viria porque como mais
ninguém o quer, o ideal é o Benfica até pelo histórico de tentativas de
recuperação de jogadores, desde Draxler a Renato, com Bernat de permeio).
Nisto tudo, Rui
Costa manteve o “cozinheiro” de tantos e tão bons “ingredientes”, Lage. Um treinador
nada consensual no Benfica, com a albarda de 2 recentes derrotas que muito nos
feriram – Campeonato e Taça. Talvez recordado de LFV que manteve Jesus depois
de uma época desastrosa e tanto ganhou na seguinte, acredita que “profissões de
fé”, serão características dos líderes. Veremos e apoiemos, por muito que não
acreditemos, porque essa é a obrigação de todos os benfiquistas.
Em ano eleitoral,
será mais do que certo que a partir de setembro, serão cerca de 6 a 7 semanas
onde os (muitos ou poucos) candidatos que se opõem a Rui Costa não irão dar
descanso à sua gestão. Ou seja, será um período conturbado, com sondagens seguramente
a semear a instabilidade e irá ser muito difícil manter a equipa isolada de
tanto ruído. De tudo se irá falar, desde o futebol à gestão. Desde as modalidades
“amadoras” que tantos profissionais sustentam até às “gorduras” das estruturas,
passando pela BTV e seus feudos, com o futebol a jogar praticamente todas as
semanas e os resultados a influenciar a virulência da campanha, inversamente
proporcional aos sucessos desportivos.
Mas até lá, também
tenho o meu sonho de Verão: proponho que seja feito um pacto, em nome do
Benfica, entre Rui Costa e os candidatos a Presidente. Como a entrada na
Champions será determinante para o sucesso desportivo do Benfica, suspendam por
este período a campanha eleitoral e apoiemos a equipa, sem descurar o Sporting, para já contra o Nice, porque apenas todos
juntos poderemos garantir a tranquilidade que ela precisa para o apuramento desejado.
Manuel Boto
(Sócio nº 2.794)