Megalomanias de Verão!
Afinal o Verão de
2025 está bem mais quente do que eu pensava. LFV anunciou no passado dia 21 de
julho um megaprojeto para uma nova “Cidade do Benfica” e, logo no dia seguinte,
com muita pompa e circunstância, por coincidência ou não, Rui Costa aparece
igualmente com um outro megaprojeto a que designa de “Benfica District”,
curiosamente cerca de 3 meses antes das eleições.
Julgava eu que o
Benfica era um clube de prática de modalidades desportivas de alta competição,
em particular no futebol profissional masculino e que estas eleições a disputar
em 25 de outubro seriam sobre qual a visão que cada um dos candidatos teria
para o desenvolvimento do “core” da atividade do Clube, em particular depois de
termos perdido a hegemonia para o Sporting (3 títulos nacionais nos últimos 5
anos), sem descurar o cuidar das infraestruturas.
Já vi que estou
redondamente enganado. O importante é discutir-se quem terá um maior e melhor
projeto para o desenvolvimento do Estádio da Luz, incrementando a sua lotação, de
preferência com escritórios à volta, um hotel e um pavilhão que ofereça melhores
condições para disputarmos as modalidades desportivas. Aquilo que eu reputo de
importante como (i) recuperar a hegemonia desportiva, (ii) garantir que somos
respeitados na FPF e Liga, mesmo quando assistimos a determinados lugares-chave
a serem preenchidos por gente que passou pelos quadros dos nossos rivais, ou
ainda (iii) refutar a mal-amanhada centralização de direitos em que tantos nos
querem entalar, seriam as armas com que as eleições se iriam disputar, tudo
isto passou para um segundo plano.
O importante é…
construir, seguramente com projetos “chave na mão” onde só se fala de um
investimento de 220 M€ (ou será de 300 M€?) receitas futuras com 35 ou até 50
M€ anuais garantidos (uma receita da Champions como os arautos fazem questão de
dizer) e prazos de recuperação do investimento garantidos de 15 ou até 10 anos.
Os mais céticos (ou os que fazem contas?), ficam estarrecidos com tanta ambição
pensando qual será a fatura que teremos de pagar por este sonho maravilhoso se
algo das certas premissas falharem ou quanto já se pagou a arquitetos para
fazerem este show-off, tudo em cima de um passivo de 427 M€ (contas do 1º
semestre de 24/25).
Dado o futebol estar
altamente periclitante, o importante é falar de sonhos maravilhosos, a
demonstrar que os dirigentes de hoje são os visionários do amanhã! Seja então
assim, ficando eu altamente cético quando vejo estes projetos em maquetes
espampanantes de luz e cor, qual “Velho da Luz” (aqui não se pode ser do
Restelo). Habituado à frieza dos números, jamais me deslumbro com miríades,
ficando sempre muito no “terra-a-terra”. Ninguém dá almoços grátis e a conta a
pagar será seguramente choruda (como foi este novo Estádio que nos deixou fora
dos títulos por uns anos).
Em 2017, foi o
Centro de Alto Rendimento a erigir em Oeiras, apresentado com pompa e
circunstância por LFV, Domingos Almeida Lima e Fernando Tavares. Relembremos as
promessas feitas: numa fase inicial seriam instalados o atletismo e râguebi,
com a possibilidade de o futebol feminino passar também a jogar em Oeiras (ou
seria apenas treinar?). De acordo com a maquete futurista, depois a piscina de
25 metros, pavilhão desportivo, campo de futebol de 11 com bancadas para 1500
lugares mais balneários, campo de treino de râguebi e até um silo de
estacionamento com 540 lugares para automóveis. Conferência de imprensa no
local e, se formos lá hoje, poderemos encontrar tudo menos este projeto. O realismo
sobrepôs-se ou aquilo foi publicidade gratuita?
Hoje, os
continuadores da obra de LFV renovam as promessas de betão e prometem aumentar
a lotação do Estádio da Luz para 80 mil lugares, um pavilhão para as
modalidades com uns 10 mil lugares - como se os adeptos do Benfica enchessem
com regularidade o atual pavilhão, quase sempre a meio gás para assistir a
jogos quantas vezes bem prometedores. Não contentes com tanto investimento, ainda
propõem o indispensável Hotel a contar com o crescimento ilimitado do turismo, com
edifícios de escritórios quais aios bem ao lado, como se escasseassem espaços
em Lisboa numa era em que cada vez mais o “homework” esvazia os existentes,
tudo com pompa e circunstância, com Moedas e a Ministra da Cultura a assistirem
e Infantino entusiasmadíssimo a tecer loas à grandeza do sonho.
Disto tudo, há
algo em que acredito que todos os candidatos à Presidência sonhem – com o
aumento da capacidade do Estádio da Luz, construído para cerca de 63 mil
lugares, em vez de à época se pensar “à frente”, sobretudo quando tínhamos um
velhinho Estádio com 100 mil lugares, quantas vezes cheio para os grandes jogos.
Não foi por falta de avisos, mas apenas por falta de visão, aquela que hoje
sobra, pelos vistos, nestes dirigentes sonhadores.
Indiscutível que
esta campanha eleitoral promete. Para já Rui Costa marcou o ritmo da campanha,
aliando a investimentos cirúrgicos e significativos no plantel (Rios, Enzo II,
agora dizem que Ivanovic, além de Dedic e Obrador, para não falar de Félix) um
projeto que enche de orgulho os incautos benfiquistas e conota os incrédulos
(como eu) como obstaculizantes do futuro. Veremos como os candidatos
alternativos “descalçam a bota” que Rui Costa “lhes calçou”.
Para já LFV,
avisado ou não do lançamento deste projeto de Rui Costa, antecipou-se e contrapôs
um outro projeto ainda maior, alvitrando até a construção de um novo Estádio. Manteigas
saiu com um comunicado inteligente e judicioso, questionando com pertinência a
sustentabilidade do projeto e perguntando pelos outros antes prometidos e
adiados. Lima Mayer, ao momento que escrevo, ainda não se pronunciou, embora
tenha projetos já anunciados de aumentar o Estádio em cerca de 15 mil lugares.
Carvalho, na televisão, mostrou-se cético como qualquer um habituado a fazer
contas. Noronha faz questão de ter memória, questiona os meios para se investir
além do timing deste lançamento do “Benfica District” e recorda projetos
anteriores que foram bandeiras eleitorais como o Centro de Alto Rendimento.
Uma coisa é
indiscutível: a campanha ficou animada! Com jogadores quase diariamente a
chegar para cimentar a promessa de uma equipa de futuro, até já nem se fala do
jogo da Supertaça quanto mais da eliminatória da Champions contra um Nice, 4º
classificado no campeonato francês. Mas, corra bem ou corra mal, sobretudo se
correr mal, teremos o sonho da Benfica District a que nos agarrar! Nada como um
sonho, de preferência megalómano de Verão, para nos esquecermos das agruras da
vida!
Manuel Boto
(Sócio nº 2.794)