No futebol, as individualidades talentosas levantam o publico nas bancadas e ganham jogos com nota artística, mas, em geral, são as equipas coesas, articuladas e bem organizadas, que conquistam os campeonatos.
Na Liga espanhola estas duas visões do jogo,
manifestaram-se com clareza: o FC Barcelona, talentoso, mas sobretudo
organizado, com um sistema de jogo plenamente assimilado e funcionando com uma
equipa unida e ligada, superou sucessivamente um Real Madrid anárquico, assente
no jogo individualizado de Mbappé, Vinicius e Bellingham.
O Benfica, sobretudo após o mercado de inverno, constituiu o plantel nacional com o maior numero de jogadores talentosos, capazes de nos entusiasmar com as suas aptidões. Mas esse talento revelou-se avulso, heterogéneo, pouco articulado e sobretudo pouco sinérgico. Veja-se o exemplo da ala direita, que numa época de futebol total, tem um jogador que ataca muito bem, mas que não defende, e outro, que defende muito bem, mas que não ataca. Ou, note-se a dispersão causada pela invenção do migrante Aursnes, que é utilizado constantemente em múltiplas posições no campo.
Lage, teve o mérito de reabilitar a equipa no pós-Schmidt, mas teve um final de primeira volta muito problemático. Na segunda volta, a produção da equipa melhorou, mas sempre mais assente em proezas individuais (Pavlidis, Akturkoglu) do que na unicidade de um sistema coletivo forte e sustentado.
Quando se avalia o insucesso num só jogo, as cadeias causais são infinitas: o acaso, a influencia arbitral, as escolhas dos jogadores, os erros individuais, as substituições. Mas, quando se analisa o desempenho num campeonato de 34 jornadas, o que prevalece são as forças estruturais que moldam a performance da equipa, a eficiência do seu sistema de jogo, a profundidade da visão que aquele torna operacional. E neste particular, o Benfica tendo o melhor plantel, não foi a melhor equipa.
Extrapolar vitórias em campeonatos, apenas a partir do talento individual é tentador. Afinal, os heróis do jogo que recordamos (Eusébio, Pelé, Maradona, Messi e CR7), alcançaram um nível tão extraordinário que frequentemente venceram a lei da predominância do coletivo no futebol.
Contudo, no Benfica atual, ninguém se aproxima do génio irrepetível de Eusébio. O clube deveria tomar como exemplo o Inter de Milão. Com um orçamento muito inferior aos principais colossos europeus, o Inter edificou uma equipa potente, atual finalista da Champions. Não dispondo dos talentos individuais do Bayern e muito menos do FC Barcelona, eliminou-os no percurso da Champions, com base num formidável sistema coletivo.
Alguns jogadores conseguem entusiasmar as bancadas, outros podem levar a equipa a ganhar muitos jogos, mas só a grandeza do coletivo vence campeonatos.
Será Lage capaz de mudar o atual paradigma? É uma pergunta incómoda, mas que tem de ser feita e respondida.
Nuno Paiva Brandão
Sócio nº 50.166