Continuo chateado com a época do Benfica. O rescaldo é doloroso, os últimos acontecimentos não dão grande esperanças para o futuro, mas como a vida continua e sob a amargura das derrotas aqui vão umas reflexões.
1. Este defeso
vai ser bem quentinho no Benfica. Sob a sombra de 2 derrotas muito pesadas,
Campeonato e Taça de Portugal, agitam-se os bastidores e anunciam-se, para
outubro, as eleições mais concorridas da sua história. As derrotas têm estes
efeitos, agitam as águas (e as águias), discute-se e verbera-se (como no fundo
também eu estou a fazer e participo). Os derrotados serão sempre incompetentes
na história do Benfica (que jamais conviverá bem com derrotas), afinal nada de
novo face ao que se passou em anos anteriores.
O ídolo Rui Costa
passou a ser permissivo, reagindo tarde e a más horas ao espoliar do Benfica
nas competições desportivas, escolheu mal o plantel e o treinador, continua a
deixar que as gorduras na estrutura do Benfica persistam sem fazer dietas
fundamentais de emagrecimento, não tem sucesso nas amadoras que se equipare ao
investimento efetuado, dado os escassos títulos conquistados e, pasme-se, eu
estou de acordo com tudo isto.
Por isso não
surpreende que em ano de eleições, se dê voz à velha máxima de “casa onde não
há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Como já o referi, dada a alta
temperatura desportiva deste defeso, as eleições deveriam ser antecipadas para
garantir estabilidade no início da próxima época e ontem já era tarde. Mas Rui
Costa, quiçá ansiando por um início vitorioso na época 25/26, não o entende
fazer e respeitemos então a data de outubro para as eleições.
Vai ser um Verão
difícil. Depois de um Mundial de Clubes que anseio que possa ser prestigiante
do ponto de vista desportivo e proveitoso na vertente financeira, teremos logo
a seguir as eliminatórias para a Champions onde não passar jamais pode ser
cenário admissível. O problemático da coisa é quanto maior for o sucesso no
Mundial, menos tempo temos para a Champions (competição fundamental para a
tesouraria) onde poderemos chegar (muito) cansados e a hipotecar as nossas
chances, consubstanciando-se a máxima do “quem tudo quer, tudo perde”.
Vamos então lá
falar um pouquinho das eleições. Indiferentes aos cenários financeiros que
acima aludo, perfilam-se os candidatos. Depois de Manteigas ter anunciado a sua
candidatura há meses, Noronha Lopes anunciou para 5 de junho o anúncio formal de
lançamento da sua candidatura. Martim Lima Mayer escreveu artigo n’ A Bola, tal como Mauro Xavier já tinha feito, indiciando que ambos certamente
estarão na corrida. Para já estarão estes, aguardando-se novas e mandados sobre
Rui Costa e quem mais tenha coragem de ousar, porque se há algo que se pode garantir é
que estas campanhas irão custar muito dinheiro. Mas como os novos estatutos
permitem cargos remunerados e, pela proliferação de candidatos até parece que o
serão amplamente, a coisa promete.
2. Um tema de que
se pouco se fala e poderá vir a ter enorme influência no futuro da SAD foi a
compra de ações pela Lenore Sports Partners (um Fundo dos Estados Unidos) que, ao que se
sabe, já detém, pelo menos, 5,24% do capital. Até acredito que talvez continuem a
comprar porque a valorização das ações atingiu em 27 maio passado o record de
6,3 € (5,74 € ao escrever estas linhas).
Que irão fazer?
Para mim não ficarão por aqui. Existe um lote de José António Santos (16,38% do
capital) francamente apetecível e que este anunciou publicamente como
transacionável a 12 euros cada ação. Em suma, o Benfica SAD terá uma nova
realidade a curto prazo e essa, sendo uma incógnita, não será necessariamente
má, embora desde já fosse desejável que se soubesse, com algum detalhe, o que estes
novos acionistas perspetivam para o futuro e como irão promover o Benfica internacionalmente.
Que dirão os
candidatos nestas eleições de outubro sobre esta nova realidade? Como irão
conviver com ela? Um tema que tem de ser abordado com clareza porque creio não
me enganar muito se disser que irão reivindicar lugares no Conselho de
Administração da SAD e não acredito que se disponham a ser “silent partners”.
3. Vou fazer uma
exceção para falar do Sporting e do seu Presidente. Entre diversas “boutades”
sobre os últimos 40 anos em que estrategicamente se esqueceu de múltiplas
incompetências e vicissitudes internas por que passou o seu clube, por mais de
uma vez em riscos de uma falência que a tristemente célebre operação das VMOC
salvou, o Presidente do Sporting, Frederico Varandas, deu sinal de vida após a
final da Taça. Impante do alto de uma “dobradinha”, lembrou-se de responder à
legitima indignação dos benfiquistas sobre o que se passou no Jamor como o
“ruído do desespero”.
Já seria muito
mau, mas até certo ponto compreensível, porque muitos dos adeptos que
representa se revêm nesta guerrilha de palavras. Por isso, “dou de barato”. Mas
não se ficou por aqui. Procurou branquear a agressão de Mateus Reis a Belotti,
a quem até perguntou, com toda a candura, se a atitude foi intencional. Este
respondeu que não e, para si, o assunto morreu. Mas sabe uma coisa Dr.
Varandas? Não só não morreu como entendo que perdeu excelente ensejo de
demonstrar, por ações concretas, que seria coerente com o que tantas vezes
defende, ou seja, um futebol português mais limpo, mais saudável.
Mais do que as
palavras, as atitudes definem as pessoas, e quando ambas, em consonância,
refletem posições que reputo de indignas para quem representa uma grande
instituição como o Sporting, perde-se toda e qualquer moral para falar de
apitos dourados ou e-mails.
Manuel Boto
(Sócio nº 2.794 do SLB)