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Benfica no Mundial – entre as surpresas e as consequências!

 Benfica no Mundial – entre as surpresas e as consequências!

Foi preciso irmos ao Estados Unidos, mais concretamente a Charlotte, para vencermos o Bayern pela 1ª vez na nossa história, sob uma canícula que estoirou todos os jogadores que entraram na partida. Depois de um início titubeante contra o Boca que apenas deu empate e um 2º jogo contra uns amadores da Nova Zelândia, saiu-nos a taluda ao ganharmos, com alguma sorte e muita garra, a um Bayern que meteu “toda a carne no assador” na 2ª parte.

Recapitulemos a estória que fez história.

O jogo inicial contra o Boca Juniors trouxe um enorme “amargo de boca”, porque ficou uma clara sensação de que poderíamos ter feito bem melhor. Os nossos jogadores pareceram iniciados até ao 0/2 e, vá lá, mesmo com 10 conseguimos empatar um jogo que a certa altura parecia perdido.

A constituição inicial da equipa trouxe surpresas, como Dahl à direita a demonstrar que Lage não confia nem em Leandro nem em Tiago Gouveia para fazerem o lugar na defesa (a contratação de Dedic é bem reveladora). Renato e Bruma foram outras 2 surpresas e só quando Lage percebeu que as opções não estavam a funcionar e recompôs a equipa, sobretudo com a entrada dos turcos Kokçu e Akturkoglu, lá conseguimos empatar. Ainda tivemos a expulsão tão desnecessária quanto justa de Belotti que nos dificultou a consumação da reviravolta.

O jogo contra o Auckland, uma equipa amadora, veio confirmar que a equipa precisa de (vários) despertadores, tal a 1ª parte tão amorfa, mesmo assim a falhar oportunidades. Deste jogo ficou o resultado e guerrilha entre Kokçu e Lage, que deixou vir ao de cima 2 certezas: (i) Lage demonstra enormes dificuldades de liderança sobre o balneário, e (ii) Kokçu julga ter o “rei na barriga”. A maioria dos “opinadores” defendeu a proscrição de Kokçu, alguns até esquecendo a maior responsabilidade de Lage, enquanto treinador, que desnecessariamente o invetivou posteriormente, quando Renato marcou o seu golo. Na minha opinião, cenas muito lamentáveis a resolver oportunamente em Lisboa, com a cabeça bem fria, porque, para cabeças quentes, já tivemos aquele espetáculo que não esqueceremos.

O jogo do Bayern, disputado sob temperaturas de 40 graus para acomodar as necessidades televisivas europeias, é um daqueles que fica para memória futura.  Uma boa 1ª parte, com jogadores jovens e frescos a secundar a experiência de Di Maria e Otamendi e uma 2ª parte de muito sofrimento, com a resistência alicerçada na impressionante capacidade de Trubin, qual “homem-aranha” a defender o que tinha e não tinha defesa.

Lage exultou compreensivelmente na conferência de imprensa com o resultado absolutamente inesperado, mas não se ficou por aqui e teceu rasgados elogios a Rui Costa, de uma forma um tanto ou quanto despropositada, como que a pedir proteção divina, sabendo que tem o lugar mais do que tremido. A gratidão é uma qualidade, tantos elogios soa a servilismo.

Segue-se o Chelsea, um jogo sempre difícil, a eliminar, em que não sabemos como os jogadores reagirão ao enorme desgaste desta competição. Diz o povo que “não se pode ter sol na eira e chuva no nabal”. Se financeiramente já estamos a ganhar, a continuidade prestigiante no Mundial pode conflituar com a presença na Champions, onde teremos as pré-eliminatórias de agosto por disputar (sem esquecer a Supertaça que se disputa já a 31 de julho contra o Sporting).

Uma nota final para a preparação da próxima época. Todos temos opiniões individuais sobre o que falta e o que temos em excesso, mas compete aos dirigentes estruturarem a equipa para a época que se avizinha. Renovações, aquisições, dispensas, vendas, tantas decisões por tomar, com o tempo a escassear e a jogar contra nós. Já sabemos que as eleições serão a 25 de outubro, calculamos todos que Rui Costa “irá a jogo”, pelo que temos como dado adquirido que os seus trunfos terão de ser jogados neste tão curto defeso, depois de um mandato de escassos títulos, quer no futebol quer nas modalidades.

Eu até diria que das decisões deste defeso e do consequente sucesso desportivo do início da época – Supertaça e entrada na Champions, dependerá em grande parte a confirmação da candidatura de Rui Costa, em que a única coisa que terá como certa é que haverá listas opositoras nas eleições e, garantidamente, nenhuma lhe facilitará a vida, cobrando os erros já cometidos e os insucessos desportivos destes 4 anos de mandato.

 

PS. Faleceu Rui Cunha, um benfiquista apaixonado de sempre, que conheci durante mais de 30 anos. Tínhamos números de sócio consecutivos, coincidência que sempre nos aproximou. Convivemos na anterior Comissão dos Estatutos, onde tivemos (algumas) posições concordantes e outras (a maioria) discordantes, mas era um Senhor, altamente respeitador das opiniões divergentes com que nos debatemos, o que sustentou uma enorme cordialidade nas nossas relações. Paz à sua alma!

Manuel Boto (Sócio nº 2794)